Fui educada para ser católica, sem extremismos, mas ensinaram-me que Deus nos ama, que é bondoso e generoso. Que Deus criou o Homem e a Mulher como iguais, como complemento. Aprendi a rezar antes de dormir e durante muitos anos cumpri esse ritual. Ensinaram-me a não desperdiçar porque era pecado, porque muitos meninos não tinham a sorte que me cabia, ensinaram-me a agradecer.
Na escola primária, muito no inicio, quase todos os meninos fizeram a primeira comunhão… eu não fiz. Senhora do meu nariz, disse que não queria fazer, não tinha tido catequese como achava ser necessário e não sabia bem o que era a comunhão, assim, não queria fazer. Esperei um ou dois anos, já nem recordo e ao longo desse tempo fui à missa ao domingo de manhã e à catequese ao domingo à tarde. Perdi muitos desenhos animados, mas no inicio isso não era problema, queria saber mais desse Deus que a minha mãe me contava nas histórias que ela aprendera com a minha avó.
Com o passar dos meses, cada vez sentia mais vontade de ver os desenhos animados e não ir à missa. A cada semana a catequese me parecia mais penosa e os mais de 3 km que percorria a pé, sempre que o meu pai por algum motivo não tinha tempo para me pajear, pareciam-me o mais interessante da tarde.
Fiz a comunhão para não desiludir ninguém. E pouco depois acabaram as missas. Hoje continuo a ir à igreja espaço físico, mas afastei-me da igreja instituição. Gosto do silêncio, da paz, gosto de falar com esse Deus em que acredito, mas evito os sermões, a imposição das ideias, a culpa, a ameaça, a hipocrisia.
Percebi ao longo dos anos que o Deus em que a minha mãe acredita, o que ela aprendeu com a minha avó e me transmitiu a mim, não é o que escutei na igreja, nem na catequese. Não é o que vejo na televisão ostentando riqueza quando ao lado se morre de fome. Não é o que constrói catedrais com paredes cobertas de ouro, com o dinheiro dos fieis que mal têm que comer. Não é o que trata Homens e Mulheres de forma diferente, como se fossem seres superiores e inferiores.
O Deus em que eu acredito, não me ama mais por eu fazer uma porrada de km de joelhos, ao lado do meu filho de tenra idade e que já carrega uma cruz de madeira nas costas para pagar uma promessa que eu fiz! O Deus em que eu acredito não aceita a minha chantagem de “dou-te um doce” se me fizeres um favor, se não fizeres, não te dou nada. O Deus em que eu acredito fica feliz comigo quando eu vou à igreja porque tenho vontade e lhe acendo uma vela enquanto lhe digo: “Obrigada, porque estou viva, porque estou capaz e porque eu sempre tenho força.”
O Deus em que eu acredito sabe quando eu errei, quando percebi o meu erro, sabe se tentei modificar-me, sabe! Sabe quem sou! E está-se nas tintas para o facto de eu não ir contar a um Padre, o que a mim apenas diz respeito. Não vejo de que adiantam as confissões e as 3 ou 4 orações rezadas às pressas na ânsia de ir fazer mexerico com a vizinha do lado, sobre uma outra que deve andar a encornar o marido…
Nota:
Muitos dos meus leitores são católicos, respeito-os muito, não quero de forma alguma ofender ninguém, quis apenas explicar em traços gerais o meu ponto de vista. Que é verdade para mim, em mim, não tenho pretensão de ser dona das verdades dos outros.